A Pé Na Estrada esteve em maio participando do VIII Grupo de Estudos promovido pelaRedSolare Brasil realizado na Itália, região da Emilia Romagna, na Fondazione Reggio Children-Centro Loris Malaguzzi para conhecer e refletir sobre a Proposta Educacional da cidade de Reggio Emilia .
Reggio Emilia é uma cidade que tem por volta de 173 mil habitantes, crianças de 0 – 6 anos representam 6% desta população, desta porcentagem 65,8% frequentam as escolas publicas num total de 6630 alunos. São chamadas Creches Escolas que abrigam crianças de 0 a 3 anos e Escola da Infância, crianças de 4 a 6 anos. Para acolher todos, a cidade possui 12 Creches e 21 Escolas da Infância, que responde bem a demanda. Internamente as diferentes faixas etárias são divididas por seção.
Na Itália não é obrigatório frequentar as escolas nesta faixa etária, portanto não é obrigação do Estado, mas a gestão destas escolas é realizada indiretamente pelo Município com a participação de cooperativas educativas sociais. O Regimento de Reggio esta baseado em três pilares: a educação é um direito, a educação é de responsabilidade da comunidade, da sociedade civil e dos governos e, a educação é um bem comum.
No contexto de bem comum, bem para toda a vida, direito universal e inaliável é que em 29 de setembro de 2011 foi aberta a Fondazione Reggio Children-Centro Loris Malaguzzi, que hoje está em 34 países do mundo promovendo e divulgando a proposta educativa de Reggio.
Esta experiência educativa se inicia após a segunda guerra mundial, como uma reinvindicação das mulheres da cidade que não queriam apenas um lugar para deixar suas crianças/filhos, mas sim o melhor, o melhor da pedagogia da época, uma escola de qualidade. Em 1945 vendem os materiais bélicos que se encontravam abandonados pelo município e destinam o dinheiro arrecadado a construção da primeira escola da comunidade: Scuola Comunale del Infanzia – XXV Aprile, o princípio foi: queremos uma escola de qualidade e ética, a esta iniciativa se reúne o jovem pedagogo Loris Malaguzi.
Loris Malaguzi dialoga com a pedagogia de vanguarda da época: Piaget, Vigotsyk, Frenet, autores que não haviam ainda sido traduzidos na Itália. Assim, a construção pedagógica das escolas se concretiza dentro de uma perspectiva sócio- construtivista onde o conhecimento se constrói através da ação do sujeito, se constrói no contexto, junto com a inovação social e com a cultura do grupo, crianças aprendem pelas experiências e nas experiências da ação e do fazer.
É uma pedagogia da relação e da escuta, que parte do pressuposto que a criança conhece o mundo como um pesquisador, curioso, atento e que neste processo é produtor de teorias interpretativas.
Uma criança que é competente para construir a si mesma enquanto
constrói o mundo e é, por sua vez, construída por ele. Competente
para elaborar teorias que interpretam a realidade e para formular
hipótese e metáforas como possibilidades de entendimento da realidade.
(RINALDI, 2012, p.223).
Teorias interpretativas que se expressam, como introduz Loris Malaguzi, em Cem Linguagens, ele diz: “a criança possui cem linguagens que necessitam de uma escuta atenta, cuidadosa e respeitosa por parte do adulto/professor”.
Se nós acreditamos que as crianças têm teorias, interpretações e
questões próprias e que são coprotagonistas dos processos de construção
do conhecimento, então os verbos mais importantes na prática educativa
não são mais “falar”, “explicar” ou “transmitir”, é apenas “escutar”.
Escutar significa estar aberto aos outros e ao que eles tem a dizer,
ouvindo as cem (e mais) linguagens com todos os nossos sentidos.
Escutar é um verbo ativo, pois significa não só gravar uma mensagem,
mas também interpretá-la, e essa mensagem adquire sentido no
momento em que o ouvinte a recebe e avalia .
(RINALDI,2012,p.228).
Como pratica educativa o adulto/professor no seu trabalho diário percorre junto a criança o caminho da observação, da documentação (registro das observações, é uma forma de memória), da formulação de hipóteses, da interpretação, da pesquisa e da escuta, não necessariamente nesta ordem, mas num ir e vir cuidadoso e atento. O adulto /professor também é o responsável por criar os contextos mais apropriados para que as crianças se sintam confiantes, confortáveis, estimuladas e respeitadas no seu processo cognitivo de descoberta do mundo.
O projeto pedagógico desenvolvido em Reggio Emilia mostra que o ensino e a aprendizagem são processos que se complementam na criança e no adulto. O adulto/professor participa do trabalho das crianças, mas não se coloca de forma frontal e sim como construtor do percurso construído, numa direção compartilhada e solidária com as crianças.
Ainda, no contexto educativo das escolas de Reggio os pais, como responsáveis pelas crianças e também como representantes da comunidade, fazem parte nos processos educativos, são fundamentais, estão na essência da experiência, pois não existe criança sem pais. Assim, o diálogo e a escuta com os pais tem que se tornar parte destes processos. Segundo Carla Rinaldi, quando nasce uma criança, nasce um pai e uma mãe, nasce um mundo, uma longa história que espera ser projetada no futuro.
Em 2009, esta experiência com as Creches e Escola da Infância começou a se ampliar para a Escola Primária, como projeto piloto em uma escola, e atualmente a experiência atinge as crianças até 9 anos.
Para a Pé Na Estrada foi uma oportunidade de conhecer uma prática sócio construtivista, com reconhecidos resultados, na perspectiva das instituições formais pois, acreditamos que no trabalho que realizamos: estudo de meio, criação de espaços de aprendizagem, ateliês criativos, entre outros, trabalhamos com esta mesma criança que aprende da mesma forma.
Referencias Bibliográficas
Projeto Pão de Açucar Kids – Loja Verde – 2008.